Ministra Margareth Menezes destaca democratização das políticas culturais em diálogo com agentes territoriais
Fala faz parte da programação do Encontro do Programa Nacional dos Comitês de Cultura, realizado em Brasília
De Onde Eu Venho: A cultura como lugar de (Re)existência. Esse foi o nome escolhido para o painel da ministra Margareth Menezes durante o Encontro do Programa Nacional dos Comitês de Cultura neste domingo (16). A conversa, mediada por Yuri Silva, ressaltou o papel estratégico dos territórios, da memória e dos fazeres culturais na consolidação das políticas públicas do Governo Federal.
Diante de agentes territoriais, coordenadores, tutores e representantes de diversos estados, a titular da Cultura lembrou que o Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC) é resultado de um processo de construção coletiva e de fortalecimento das bases culturais do país. “A realização deste encontro é a concretização de um sonho coletivo, pensado para acender a luz da cultura em cada canto do Brasil. Cada agente aqui presente carrega uma força própria — e estamos de mãos dadas para materializar políticas públicas que cheguem de forma efetiva às pontas”, afirmou.
Em sua fala, ela traçou paralelos entre sua trajetória pessoal e o impacto da cultura na transformação social. Recordou o início da carreira artística, a vivência comunitária, o trabalho no território e o surgimento de iniciativas culturais que, mais tarde, estruturariam sua atuação como líder e gestora. A ministra também destacou as entregas dos últimos anos, como a implementação das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, o avanço na retomada do Sistema Nacional de Cultura e a reorganização administrativa do MinC. “Retomar o diálogo com o Brasil profundo é condição essencial para transformar realidades. As políticas culturais só existem porque há território, há saberes locais, há gente que faz cultura todos os dias”, reforçou.
O encontro segue ao longo de quatro dias com mesas temáticas, formações, debates, atividades culturais e oficinas que fortalecem o diálogo entre agentes territoriais e o Ministério da Cultura, promovendo intercâmbio, participação social e descentralização da política cultural. Para a secretária de Articulação Federativa e Comitês de Cultura, Roberta Martins, reunir representantes de todos os estados mostra a dimensão histórica da construção da cultura no país. “Este encontro consolida redes, fortalece vínculos e nos permite pensar o futuro da política cultural brasileira de maneira coletiva, responsável e profundamente democrática”, reitera.
Salas temáticas e oficinas
Ao longo do dia, a programação do Encontro integrou conversas em salas temáticas e oficinas de formação voltadas a fortalecer a atuação dos agentes territoriais e dos Comitês de Cultura. As atividades reuniram participantes de todas as regiões do país e articularam saberes técnicos, comunitários, ancestrais e comunicacionais.
Na sala dedicada às Evidências das políticas territoriais, a diretora de Articulação e Governança do MinC, Desiree Tozi, apresentou indicadores do PNCC e destacou a importância da produção de dados para orientar os próximos passos do Programa. “Por meio dos indicadores, percebemos quais municípios têm mais demanda do setor cultural e podemos organizar e devolver essas informações de forma qualificada. Eles mostram quem queremos atingir e fortalecer”, ressaltou. A conversa contou também com representantes dos programas federais AgPopSus e Paul Singer, que compartilharam experiências de atuação territorial nas áreas de saúde e economia solidária.
A roda de conversa Onde o território fala: caminhos da comunicação popular discutiu o papel estratégico da comunicação comunitária na democratização da informação e na construção de políticas públicas. Os participantes ressaltaram a comunicação produzida nos territórios como ferramenta fundamental de participação social. Para Renato Souza, da rádio comunitária Utopia FM (Planaltina/GO), “a mídia tradicional não dita mais tudo”, reforçando que a organização comunitária amplia vozes e agendas próprias.
Outro debate relevante ocorreu na sala Democracia tem corpo e cor, onde a produtora cultural e representante da comunidade LGBTQIA+, Ruth Venceremos (Distrito Drag), convidou o público a refletir sobre preconceito, representatividade e os desafios enfrentados por segmentos historicamente excluídos. “Antes de pensarmos na interface entre corpo, gênero e democracia, é preciso reconhecer onde o povo tem sido impedido de participar. Estimular comitês, conselhos e eventos como este é também fazer democracia”, afirmou. A fala inspirou participantes como a agente territorial Diana Campos (MG), que celebrou a oportunidade: “É nesses momentos que percebemos a importância de viajar, conhecer e participar de eventos como este. Saio daqui mais empoderada”.
As oficinas também tiveram destaque na programação. A atividade de Videomaker Mobile, ministrada por Ana Luiza Aguiar e Caroline Menezes (Comitê de Cultura do DF), apresentou técnicas acessíveis de produção audiovisual a partir do celular. A formação abordou o uso de ferramentas como CapCut, roteirização com o método Aida, análise de vídeos produzidos pelos participantes e orientações práticas sobre captação e edição. Para Ana Luiza, “a comunicação precisa ser acessível, e hoje todo mundo tem um celular na mão. Ensinar essas ferramentas é facilitar que cada agente registre, divulgue e fortaleça o que acontece em seus territórios”.
Caroline destacou o impacto da oficina: “queríamos mostrar que essa ferramenta pode gerar transformação real. Eles podem impulsionar ações culturais, dar visibilidade ao território e contar suas próprias histórias. Saímos com a sensação de missão cumprida”. O encontro também proporcionou trocas entre participantes com diferentes níveis de experiência, reforçando a comunicação como campo de aprendizado contínuo.
Já a oficina O Bordado do Bumba Meu Boi como expressão de identidade e patrimônio cultural, ministrada por Evaldo da Costa, Pereira Júnior e Nadir Cruz (Comitê de Cultura do Maranhão), apresentou o bordado como prática ancestral e forma de expressão profundamente ligada à história do Bumba Meu Boi. A oficina uniu prática manual, oralidade e reflexão sobre simbologias que conectam tradições do catolicismo popular e das religiões afro-brasileiras.
Segundo Nadir Cruz, “o bordado é um ato de sentimento. Ao colocar cada miçanga, organizamos memórias, aprendizagens e a tradição que recebemos dos nossos ancestrais”. Ela celebrou a possibilidade de compartilhar o ofício com participantes de outros territórios: “Trazer esse saber para um encontro nacional amplia o conhecimento, fortalece a economia criativa e dá continuidade a um ofício de mais de 48 anos da minha vida”. A oficina reuniu uma sala cheia de participantes interessados não apenas na técnica, mas também na dimensão cultural e política do bordado.
Formação dos Escritórios Estaduais
Além das atividades abertas ao público, a Formação dos Escritórios Estaduais, conduzida pelo consultor e educador popular Gabriel Ribeiro, reuniu representantes de 25 unidades da federação. O encontro discutiu formas de compartilhar o conhecimento acumulado pelos escritórios e aprimorar a implementação das políticas culturais nos territórios. Gabriel apresentou o conceito de “patrimônio metodológico”, descrevendo-o como a lógica desenvolvida e aplicada em um território que pode ser adaptada e replicada em outros, ampliando a eficiência das ações públicas.
Mais de 660 horas de consultorias, distribuídas em quatro reuniões em cada estado, antecederam a atividade. Para Gabriel, o papel dos escritórios é central para o sucesso das políticas culturais recentes: “É impossível falar dos resultados da Política Aldir Blanc sem falar desses servidores. São eles que, no dia a dia, explicam cada tela, cada botão, fazem a escuta e ajudam a política a acontecer de verdade”, concluiu.
A programação do primeiro dia do Encontro terminou com um show do cantor Tomaz Miranda. "São raras as vezes que eu tenho a oportunidade de fazer um repertório mesclado com outros ritmos do Brasil e o público corresponde como correspondeu aqui porque tinha gente de todo o país. É quando você vê é a riqueza da cultura brasleira viva", afirmou.
E completa: "se a gente nçao pensar a vultura de um país diverso e rico, a gente cai na armadira de esteriotipar a cultura. Por isso o que o Ministério da Cultura está fazendo aqui é imprescindível".


